quarta-feira, agosto 25, 2010

Lula critica o diretor da ‘Folha de S. Paulo’ em comício

Lula participou, na noite passada, de seu nono comício na campanha de Dilma Rousseff. Deu-se em Campo Grande (MS).
Na pele de cabo eleitoral, o presidente declarou, pela enésima vez, ter sido vítima de preconceito por não dispor de formação universitária.
Mencionou como exemplo uma passagem da campanha de 2002, ano em que prevaleceu sobre o mesmo José Serra que agora mede forças com sua pupila.
Conforme relato do repórter Claudio Leal, Lula resumiu assim o episódio: "Me lembro como se fosse hoje, quando eu estava almoçando com a Folha de S. Paulo...”
“...O diretor da Folha de S. Paulo perguntou pra mim: ‘O senhor fala em inglês? Como é que o senhor vai governar o Brasil se o senhor não fala inglês?’...”
“...E eu falei pra ele: alguém já perguntou se Bill Clinton fala português? Eles achavam que o Bill Clinton não tinha obrigação de falar português!"
Ouviram-se gritos e aplausos da audiência. E Lula: "Era eu o subalterno, o colonizado, que tinha que falar inglês, e não Bill Clinton o português!".
Ainda se referindo ao almoço na Folha, o presidente arrematou: "Houve uma hora em que eu fiquei chateado e me levantei da mesa e falei:...”
“Eu não vim aqui pra dar entrevista, eu vim aqui pra almoçar. Levantei, parei o almoço e fui embora".
O relato despejado por Lula sobre o palanque de Campo Grande não condiz com os fatos. O almoço a que fez referência ocorreu em 19 de julho de 2002.
Lula foi à mesa com diretores e editores do jornal, numa sala de refeições que funciona no 9º andar do edifício sede da Folha.
Irritou-se não com uma, mas com duas perguntas formuladas por Otavio Frias Filho, diretor de Redação.
Na primeira, Frias Filho perguntou a Lula se ele tinha se preparado intelectualmente nos últimos 20 anos para credenciar-se ao exercício do cargo de presidente.
Não houve menção à língua inglesa. Lula negou-se a responder. Alegou que a pergunta seria preconceituosa. Nem sinal de Bill Clinton.
Ante a recusa do então candidato, Frias Filho registrou sua estranheza. Embora abespinhado, Lula manteve-se à mesa.
Depois, na segunda pergunta, Frias Filho inquiriu o convidado sobre a aliança que o PT firmara com o PL. Tachou a legenda de linha auxiliar do malufismo.
Lula esboçava uma resposta quando o interlocutor interveio para dizer que suas explicações lhe soavam evasivas.
Foi nesse ponto que Lula se levantou e abandonou a sala de almoço. Antes de sair, acusou Frias Filho de estar a serviço de outra candidato. Uma alusão a Serra.
O "publisher" da Folha, Octavio Frias de Oliveira, vivo à época, acompanhou Lula até a saída.
A cena foi testemunhada por José Alencar, então candidato a vice presidente, e por assessores petistas que acompanhavam Lula.
No comício de Campo Grande, ou Lula foi traído pela memória ou adicionou deliberadamente pimenta ao que já era picante.
Disse que muitos o viam em 2002 como “cidadão de segunda classe”. Pior: enxergavam-no como um “verdadeiro vira-lata”.
Voltando-se para Zeca do PT, seu candidato ao governo do Mato Grosso do Sul, Lula concluiu:
"Quando terminou o meu mandato, Zeca, terminei sem precisar ter almoçado com nenhum jornal!...”

“...Nunca faltei com o respeito com a imprensa. E vocês sabem o que já fizeram comigo".
O lero-lero do preconceito não foi recitado ao microfone a esmo. Serviu de preâmbulo para o que foi dito a seguir.
Lula insinuou que, a exemplo do que julga ter ocorrido com ele, também as mulheres são vistas no Brasil sob uma ótica preconceituosa.
“É verdade que já perdi três eleições. Mas também é verdade que já ganhei duas e vamos ganhar a terceira, elegendo a Dilma”, ele afirmou.
“As mulheres não são maiores só na sociedade. Elas são maioria no doutorado e no mestrado também...”
“...Isso significa que as mulheres não querem mais ser tratadas como cidadãos de segunda categoria. Eu quero que a Dilma cuide do nosso povo com carinho e amor”.
A presidenciável petista discursara antes de seu patrono. Dedicara-se a elogiar o “nosso governo” e a fustigar Serra, seu principal antagonista.
“Tem aqueles que falam e aqueles que fazem. Nós somos do grupo dos que fazem. Eles são do grupo dos que falam e dizem só nas eleições...”
“...Nós fizemos o Bolsa Família no momento mais difícil. E jamais deixamos faltar dinheiro para o Bolsa Família. Eles [...] chamavam de bolsa esmola”.
Dilma recordou à platéia que ainda faltam 40 dias para o exercício do voto. Repetiu que pesquisa não ganha eleição. E instou os que a ouviam a buscar votos.
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Escrito por Josias de Souza às 03h22

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